terça-feira, 5 de maio de 2009

Uma outra visão sobre Rui Costa

Ontem, em Yverdon, Rui Costa mostrou a simplicidade e humildade dos predestinados, justificando a empatia com os adeptos e a liderança natural da equipa, já que "para se ser capitão não é necessário ter braçadeira".


JN, 2006-07-15







Partindo do princípio que tal cargo é indispensável, e é-o num Benfica presidido por Luís Filipe Vieira (embora não para transferência da responsabilidade do Presidente em caso de insucesso), à primeira vista, é muito difícil, se não mesmo impossível, encontrar alguém com mais potencial do que Rui Costa para desempenhar o cargo de Director Desportivo do Benfica.



Dito isto, tal não significa que Rui Costa não tenha ainda um longo caminho a percorrer para poder atingir, como Director Desportivo, os resultados que todos desejamos.



Por onde passou, Rui Costa, pela sua invulgar classe como futebolista (a todos os níveis), sempre atingiu o estatuto de estrela. No caso particular do Benfica, tirando partido das circunstâncias, Rui Costa conquistou um estatuto quase messiânico, de salvador. Para tal muito contribuiu a acção do próprio Rui Costa que, desde que, em 94, saiu do Benfica, nunca deixou de pavimentar o caminho para o seu regresso, sabendo alimentar como ninguém a sua imagem de filho pródigo.




Ao longo dos anos, a empatia entre a massa associativa do Benfica e Rui Costa foi crescendo, como referi, suportada num sebastianismo exemplar. Rui Costa é hoje admirado no Benfica, não tanto por aquilo que efectivamente deu ao Clube, mas por aquilo que as pessoas imaginam que Luz em vez de ter jogado em Itália. Convictamente acredito que, se tal tivesse ocorrido, considerando outros exemplos, muito provavelmente a situação do Benfica hoje não seria diferente e Rui Costa não teria sido o jogador que foi.


Analisando o contributo do jogador Rui Costa para a história do Benfica, podemos constatar que nas primeiras épocas em que jogou na Luz, Rui Costa assumiu uma posição de destaque (destaque esse que permitiu que, à época, a sua fosse, de longe, não obstante a imperativa necessidade do Benfica em vender jogadores, a maior transferência do futebol português), mas é duvidoso supor que o Benfica não teria ganho o que ganhou (Taça de Portugal 92/93 e Campeonato Nacional 93/94) caso não o tivesse, a ele, na equipa. Nestes primeiros anos, o contributo do Rui Costa para o Benfica pode ser comparado com o contributo de jogadores como Figo ou Cristiano Ronaldo para o Sporting. Foram todos muito mais relevantes enquanto balões de oxigénio para o tesouraria dos respectivos clubes, do que no campo, como jogadores.



No que se refere às duas últimas épocas, é minha convicção pessoal que o contributo de Rui Costa foi muito mais negativo do que positivo para os resultados obtidos pela nossa Equipa. Na época do regresso, pela forma como o mesmo foi conduzido, a entrada de Rui Costa na Luz foi em grande parte responsável pelo afastamento verificado entre Luís Filipe Vieira e José Veiga e pela reforçada vontade de Simão em sair do Clube no final da temporada. Na época da despedida, não obstante o elevado nível do seu desempenho futebolístico, qualquer um poderá facilmente constatar que o completo desmembramento da estrutura do futebol do Benfica em muito se deve o papel a que se prestou.


A incapacidade para, por vezes, impedir a sobreposição do seu ego pessoal aos interesses colectivos do Benfica é o calcanhar de Aquiles do Rui Costa. A forma como se deixou manipular, consciente ou inconscientemente não sei, por Luís Filipe Vieira ao longo dos últimos anos é apenas o exemplo mais vivo desta subjugação do interesse colectivo ao ego pessoal de alguém que permitiu que o seu nome fosse utilizado como bandeira em todas as campanhas eleitorais e alimentou sempre ostensivamente junto dos Sócios do Clube a esperança de um breve regresso ao Benfica em todos os momentos que antecederam a celebração de novos contratos.
Nesta sua primeira época como Director Desportivo, Rui Costa não foi capaz de evitar cair novamente neste "pecado" que tão nefasto foi no seu regresso como jogador ao Clube.



O que mudou efectivamente na organização do futebol Benfiquista da época 2007/2008 para a poca 2008/2009? Aumentou a capacidade de rentabilizar os escalões de formação do clube? Aumentou a capacidade de recrutar talento no campeonato nacional? Melhorou a política omunicacional do clube com o exterior? Foi o grupo de trabalho mais protegido da gula da imprensa por tudo o que diga respeito ao Benfica? Foram colocadas à discussão pública, por iniciativa do Benfica, medidas efectivas de moralização e melhoria do quadro competitivo do futebol português? Conseguiu construir-se uma equipa minimamente equilibrada em todos os seus sectores? Conseguiu acertar-se com todos os elementos da estrutura, particularmente equipa técnica e jogadores, um quadro de objectivos comuns? Aumentou o nível de exigência e responsabilização individual pelo cumprimento dos objectivos definidos?


A nenhuma das questões colocadas, cada uma delas bastante relevante para a reafirmação do Benfica como o maior clube nacional, é possível dar uma resposta convictamente positiva.
Ao longo da época não foi faltando o habitual show-off, agora mais sofisticado mas, nem por isso, menos deslocado e descabido.



A Rui Costa, nas suas novas funções, não se pede agora que se seja a estrela que sempre foi. O seu sucesso está agora muitíssimo mais dependente da sua capacidade de fazer brilhar outros do que de brilhar, de trabalho de bastidores (não daqueles que muito têm contribuído para conspurcar o futebol nacional) do que das luzes da ribalta.


Rui Costa tem ainda margem de manobra para corrigir os erros cometidos ao longo de mais uma época miserável. A benevolência dos sócios, que permitiu à Equipa, durante a maior parte da época, beneficiar de uma tranquilidade nunca antes vista em função daquilo que vinha sendo produzido, mantém-se, é devida em exclusivo a Rui Costa, e oferece-lhe as condições para um novo começo, mas o seu futuro depende, em larga medida, das opções que tomar no curto prazo quanto à continuidade de Quique (cujas declarações mais recentes confirmam que ainda mantém um alheamento completo do que é a realidade Benfica) e à forma como se posicionar durante a próxima campanha eleitoral (onde, é preciso reconhecer, não será fácil encontrar o ponto de equilíbrio entre a candidatura de Luís Filipe Vieira, ao qual está necessariamente vinculado, e as demais candidaturas que espero sinceramente venham a aparecer).

3 comentários:

  1. Porque foi escolhido Petit como mandatário ?

    vota nas Sondagens Gloriosas e sugere perguntas

    ResponderEliminar
  2. O meu juízo sobre o Rui Costa vai depender muito do próximo defeso.

    Se aparecerem mais uma carrada de jogadores para a nova época, o balão vai-se esvaziar e muito.

    E é pena, pois ele é dos poucos que sente o Benfica dentro daquela estrutura "empresarial" (e o Carlos Lisboa).

    ResponderEliminar
  3. Li como muito interesse este texto...
    Pela admiração que o MAESTRO sempre teve da minha parte, Espero sinceramente que a lição vos esteja a ser dada, pela forma como o BENFICA joga actualmente...
    Pelo orgulho que, e desde que o RUI regressou ao BENFICA, voltei a sentir em ser BENFIQUISTA...
    Quero agradecer a pessoas como voçês, são voçês que tornam o RUI e este BENFICA mais forte... Acabou a era da flatulência...

    ResponderEliminar